Michele Froehlich Cardoso



     Michele Froehlich Cardoso, 20 anos, filha dos empresários Maristela Froehlich Cardoso e Sandro Roberto Barbosa Cardoso, natural de Santa Maria era protética e trabalhava na Kiss. De sorriso cativante, determinada, com personalidade forte, era difícil dar o braço a torcer.

Michele com a irmã Clarisse


 No dia 27 de janeiro de 2013, Michele estava na boate Kiss junto com os irmãos, Bruno Froehlich Cardoso , Clarissa Lima Teixeira e o namorado João Pozzobon . Só Bruno conseguiu se salvar. 

Eram 3h20 da manhã, apenas um minuto depois de o corpo de Bombeiros da cidade receber a primeira ligação alertando sobre o incêndio na boate Kiss, quando os amigos da protética Michele Cardoso, receberam a mensagem no Facebook:" Incêndio na Kiss socorro."


Minutos depois, começaram as perguntas: "Tu está bem?" Outro texto questionava:" Como assim? Explica isso"; ou, então:"Sério, MIIIII?" Um outro parecia gritar:"MIIIIII", em vão.
Michele, que estava trabalhado na Kiss, foi encontrada morta na boate. Ela estava acompanhada da irmã, Clarissa Lima Teixeira, e do namorado, João Paulo Pozzobon, 20 anos, que também sucumbiram ao incêndio. João Paulo morreu porque, já fora da boate, e contrariando o apelo dos amigos, retornou á Kiss para tentar salvar Michelle, que havia pedido socorro pela rede. O casal havia se conhecido na casa noturna seis meses antes. Foi a primeira grande tragédia brasileira testemunhada e comentada em tempo real pelas redes sociais, principalmente pelos jovens, que se identificaram com as vítimas. O pedido de Michele permaneceu online. Assim como milhões de tuites e posts relacionados à tragédia de Santa Maria, de todas as partes do mundo anônimos e famosos, que se multiplicaram durante a semana.



Clarissa Lima Teixeira, 26 anos, estudante de Letras e "filha do coração", e Bruno Froehlich Cardoso, à época com 23, curtiam a balada, enquanto Michele Froehlich Cardoso, 20, cumpria um de seus últimos turnos de trabalho no bar – a atividade eventual era um complemento à renda do emprego como protética. Todos os irmãos já haviam sido funcionários da danceteria. 

Michele e o irmão Bruno


De casa, o pai, Sandro Roberto Barbosa Cardoso, acompanhava as fotos que a gurizada postava no Facebook. Os horários são lembrados com exatidão – Bruno, que saiu ligeiro da boate porque a namorada, alérgica, receava passar mal com a fumaça, ligou para casa às 3h18min: 

– Mãe, eu não acho as gurias! Pede para o pai vir para cá!

Às 3h30min, o casal já estava imerso no caos que circundava a boate. Carros particulares embarcavam os feridos e zuniam atrás de socorro, voluntários quebravam a fachada do prédio para tentar livrar os frequentadores trancafiados. A pedido de um conhecido que queria cobrir o rosto e encarar o inferno que ardia a quase 300ºC, Sandro tirou a camisa. Saberia mais tarde que passou pelo corpo de Clarissa estendido na calçada do supermercado, sem reconhecê-la. 

Parentes passaram a percorrer os estabelecimentos de saúde atrás de notícias: as garotas não estavam no Hospital de Caridade Dr. Astrogildo de Azevedo, nem no Pronto Atendimento Municipal, tampouco no Hospital Universitário. Ainda de manhã, confirmaram-se as duas mortes, com 20 minutos de intervalo entre uma e outra. 



 


Michele e o namorado João Paulo Pozzobon


O caso de Michele ganhou especial destaque devido a um apelo que postou no Facebook ao constatar o fogo: "Incêndio na KISS socorro". Era tamanho o horror daqueles dias e o assédio dos repórteres em Santa Maria que a família saiu da cidade – primeiro, refugiou-se em Ijuí. Depois, partiu para Torres. 



Quando ainda eram cinco, Sandro já planejava uma rotina mais tranquila com o negócio de esquadrias. Veio a tragédia, e o casal, com o auxílio de Bruno, resolveu encarar o trabalho com afinco para tentar digerir o insuportável.

– Quanto mais você trabalha, menos você lembra – ensina o pai. – Temos que levar nossa vida. Temos que sorrir porque as tivemos do nosso lado. É melhor sorrir lembrando do que chorar a perda, não vai adiantar. Vamos sorrir e seguir a vida. A gente vai sofrer, vai chorar, mas tem que tocar – conforma-se. 

Juntos há 30 anos, os empresários asseguram que o casamento se fortaleceu – amparam-se um no outro, não ficam um único dia apartados. Acabam de se mudar para um sítio a cerca de 15 quilômetros do centro de Santa Maria. Deixaram para trás a casa com o vazio das gurias. 


Fonte:gauchazh.clicrbs





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