Melissa do Amaral Dalforno. De São Gabriel.Estava no 2º semestre de tecnologia dos alimentos na UFSM. Era uma pessoa maravilhosa, alegre, faceira e muito vaidosa.
Queria ser veterinária, mas quando descobriu que tinha que abrir os animais ela desistiu. "Não vou judiar dos bichinhos", dizia ela. Mas ela sabia que não era judiar e sim fazer uma cirurgia, mas não estava preparada para isso. Por fim decidiu fazer Tecnologia dos Alimentos.Onde ela pensou que poderia ajudar a fazer comidas saudáveis para os animais, sempre pensava no bem estar deles.
A última palestra que ela assistiu foi de uma professora que trabalha com produção de alimentos para animais grandes. E ela amava cavalo, mesmo a família não tendo tradição de ter cavalos.
Melissa gostava muito dos animais, sua mãe Mara Dalforno possuía quatro cachorros que eram criados dentro de casa e dormiam com seus pais. Dona Mara nunca comprou um cachorro, todos foram resgatados por Melissa que os enxergava abandonados na estrada. O sonho dela era fazer com o pai um canil para cachorros de rua. Como Melissa morava sozinha em um apartamento, levou um cachorrinho para morar com ela.
A jovem Melissa Amaral Dalforno, 19 anos de idade, gêmea com o Leonardo, morava em São Gabriel mas estudava em Santa Maria. Filha de lavrador e da professora Mara.
Ela estava estudando em Santa Maria há um ano e meio. Fez cursinho e Santa Maria era vista por sua família como uma cidade de estudos. Sempre foi uma pessoa tranquila, não era muito de sair, nem ir á festas,dedicava-se aos estudos, e conhecia poucas pessoas na cidade . Diferente de São Gabriel onde se sentia segura, conhecia tudo e todo mundo, por ser uma cidadezinha pequena.
Sempre retornava a São Gabriel na sexta-feira e onde já tinha marcado encontro com os amigos, e ela mesmo dirigia o carro, havia tirado carteira de motorista para poder andar tranquilamente pela cidade.
No primeiro semestre a mãe de Melissa vinha toda semana, pois foi difícil para a jovem se adaptar a Santa Maria, dona Mara a encontrava chorando, ela tinha medo de andar na rua, mas não queria desistir de estudar.Preocupada com a atual situação da filha, a levou no médico que a perguntou: " A senhora obrigou ela a vim estudar em Santa Maria? De imediato a mãe respondeu: "Nunca. Nunca obriguei um filho meu a fazer alguma coisa", o que depois pode ser confirmado pela própria Melissa que alegou querer muito ficar em Santa Maria, mas não estava conseguindo.
O médico lhe passou um tratamento e a partir daquele momento, Melissa prometeu que não iria incomodar mais a mãe e iria focar nos estudos e superar esses medos.Logo passou no vestibular na Universidade de Santa Maria.
Quando apareceu a festa de" Agromerados" organizada pelos estudantes, Melissa começou a pedir permissão aos pais para ir , pois seus colegas iriam e seriam para arrecadar fundos para a formatura. Vendo a ansiedade e euforia da filha, os pais permitiram com a condição que ela usasse um táxi excecutivo.Com o consentimento deles, ela ficou numa felicidade só. E começou a convidar os amigos de São Gabriel para virem, aquela festa estava sendo tudo para ela, pois queria conhecer a noite de Santa Maria que todos falavam ser excelente.
Um final de semana antes do dia da tragédia da Boate Kiss, Melissa estava em São Gabriel como era de costume Melissa ainda tinha uma última semana de aulas pra depois entrar de férias.Tinha prova e trabalho na sexta-feira e no sábado, dia 27 de janeiro seria á festa.E seria justamente o final de semana que sua mãe estaria de aniversário, Melissa a abraçou com carinho e disse que só iria porque tinha prova e a festa, mas que voltaria para fazer uma farofada na praia com a família, como ela dizia.
Naquela semana ela havia mandado para a mãe os trabalhos que estava ensaiando, pois tinha que passar com uma nota excelente. Gravou tudo, e até hoje sua mãe tem todas as fotos do trabalho no computador. No sábado ela foi em São Gabriel, vendeu ingressos da festa e retornou.
Como muitos colegas universitários, a moça compareceu á boate Kiss e lá deixou o mundo físico, na tragédia que todos conhecem. Onze horas da noite Melissa ligou avisando que estava saindo e lá se foi com os amigos. Dona Mara Dalforno dormiu a noite inteira. E a amiga e o namorado que se salvaram lhe contaram que ás duas da manhã haviam saído da boate porque ela estava com dor nos pés e ele cansado. Eles atravessaram a rua da boate e começou a fumaça, dali por diante começou a grande tragédia.
E até hoje as famílias lutam por justiça. Onde mesmo dilacerados pela dor, buscam incansáveis por uma solução, para que outros jovens não sofram o mesmo que eles tem sofrido. A mãe de Melissa fez um desabafo emocionado, onde diz:" É como a gente falou muito lá no Fórum, as pessoas que não passam por isso, que não vivenciam isso, não têm esse sentimento. Que nós, mãe e pais, temos. Que nós vivemos na carne, no coração. A gente fala muito sobre isso, sabe, eu e meu marido conversamos em casa sobre isso. E eu tenho dois filhos, um é gêmeo dela, que até hoje ele não fala o nome dela. Eu não consigo que ele se trate, eu tô deixando ele no tempo dele. O que eu faço assim eu agarro ele, eu puxo, eu beijo ele, e ele tá sempre assim. Eu sento na mesa pra almoçar, nós sentamos todos juntos, eu falo nela – o médico pediu pra mim “Nunca para de falar nela” – “A Melissa gostava disso”, mas normal, como se ela fosse chegar, aquela coisa toda assim. “A Melissa era assim, a Melissa era assado”, mas ele não diz uma palavra. Até hoje. Ele não toca no nome dela. Ele trabalha durante o dia. E o mais velho tem 25 anos, é o que tá se tratando até hoje e pediu pra eu me tratar junto com ele porque eu me negava a tratar porque vai ser uma dor que não vai sair nunca daqui né? Mas ele não aceita, ele quer que eu me trate junto com ele, ele quer me ajudar, ele se preocupa com a família. Mas eu sempre fiz eles trabalharem pra eles ocuparem a cabeça, né? Porque se não faz que nem eu, se atira em cima de uma cama e chora. E aí o que que eu faço com os guri que tão começando a vida? Eu tenho uma irmã que é como uma mãe dela, que mora junto comigo. E a gente vai vivendo assim. Eu não quero que aconteça isso com ninguém, eu não quero que alguém passe por isso. De jeito nenhum."
Mara Amaral Dalforno, a mãe dela, conta que a vida da família nunca mais foi a mesma. Algumas interrogações continuam pulando na cabeça da mãe inconformada:
_Pergunto a Deus: Por quê? Que fizemos nós, que fez aquele serzinho que só queria o bem de todo mundo? Por que temos de sofrer tanto?
_Pergunto a Deus: Por quê? Que fizemos nós, que fez aquele serzinho que só queria o bem de todo mundo? Por que temos de sofrer tanto?
Para tocar a vida para diante, Mara, trabalha em serviço voluntário num abrigo para idosos, como procura ajudar algumas crianças de que a filha gostava muito.
"Agora não vivo mais, apenas sobrevivo", suspira.
"Agora não vivo mais, apenas sobrevivo", suspira.
Ao mexer nos cadernos da Melissa, Mara encontrou o texto de autor ignorado, que ela interpretou como recado da filha para ela .Diz assim:
_Não busque aparências, porque elas mudam, não procure pessoas perfeitas, porque elas não existem. Busque, acima de tudo, pessoas que vejam seu valor, te façam sentir especial e que, independente de qualquer situação, estejam ao seu lado. Nunca deixa de lutar por medo de errar ou se machucar, pois as feridas se curam, mas o tempo não volta. A mais bonita lágrima é a da saudade, pois ela nasce dos risos que já se foram, dos sonhos que não apagaram e de lembranças que jamais se apagam. Entre as aflições da vida não se desespere, pois das nuvens mais escuras caem águas limpas, e nas coisas mais simples encontramos a razão de viver.
Para confortar a mãe e o pai João Alberto Dalforno, Melissa se apresentou sorridente em um sonho muito nítido, sorridente como sempre foi na rápida passagem terrena. A jovem mostrou para os pais que está mais viva do que nunca, que a morte não existe e que ela apenas se mudou para a vida espiritual. A separação é provisória. Um dia, filha e pais se reencontrarão em clima de muita alegria e felicidade.
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