João Aloisio Treulieb



   
     Estava tudo pronto para o nascimento da pequena Joana Treulieb, previsto para abril de 2013. O enxoval foi comprado, e o quarto, decorado no apartamento dos pais em Santa Maria, na Região Central do Rio Grande do Sul. A empolgação da mãe, a advogada Patrícia Carvalho, de 35 anos, virou tristeza no dia 27 de janeiro de 2013. O marido João Aloísio Treulieb era o chefe do bar da boate Kiss e foi uma das 242 vítimas do incêndio na casa noturna. No dia 29 de março, quando segurou a filha pela primeira vez, Patrícia voltou a sorrir.
     "Quando vi Joana pela primeira vez, renasci para a vida. Tudo é para ela, e em função dela. Ela é a presença constante do João na minha vida, representada em cada traço e cada gesto. Fui escolhida por ele para ser esposa e mãe da filha dele. Isso não tem preço", contou Patrícia ao G1. "E ela é a cara dele, igualzinha".





     Joana vai demorar a entender o quanto seu nascimento foi importante para a mãe. Patrícia era casada com João há um ano, depois de outros 10 de namoro. Em agosto de 2012 , souberam que seriam pais pela primeira vez. Em outubro, que seria uma filha.




  "Já tínhamos o berço, que o João comprou no Natal, e a parede decorada com coisinhas que sobraram do chá (de fraldas). Mantive a parede e o berço como ele havia deixado", contou. "Havíamos começado o enxoval há bastante tempo", disse.
     Quatro dias após perder o amado, precisou enfrentar a cirurgia da mãe, Terezinha de Lurdes Carvalho, 63 anos, que foi submetida à retirada de um tumor no intestino. A chegada da menina alegrou a mãe, deu forças a avó materna e conforto a familiares de João, que hoje ajudam Patrícia a cuidar da filha.

     “O nascimento da Joana me trouxe de volta à vida, mas não só a mim. Renovou as esperanças da minha mãe, que buscou no nascimento da neta forças para a cura da doença. Enxugou as lágrimas da família Treulieb, que hoje se ocupa e faz questão de estar presente todos os dias me ajudando”, conta Patrícia.
     A saudade do marido ainda é forte, e se mistura com o orgulho. Patrícia conta que João foi um herói, pois salvou quatro pessoas do incêndio. Tentava tirar a quinta quando não resistiu mais. Hoje ela prepara um diário para que a filha saiba quem foi seu pai. "Conto tudo o que aconteceu, que o pai dela tirou quatro pessoas da boate", diz.
     Sempre que algo novo acontece, ela escreve. Os textos da advogada e as reportagens de jornais locais sobre o incêndio são reunidos em um fichário, que já tem cerca de 100 páginas. A ideia foi dada por uma psicóloga que presta atendimento a Patrícia.
     “Nosso diário não é nada mais do que um fichário comum. A primeira frase do diário é ‘para você, Joana...’. Entre reportagens, fotos e escritos já passa de 100 folhas. Quero continuar escrevendo até quando ela possa entender o que significa o diário”, contou.
     Ser mãe de primeira viagem é sempre uma tarefa complicada, sobretudo sem a presença do pai da criança, e depois de uma tragédia como a da boate Kiss. O aprendizado é constante. “A gente vai se descobrindo e se conhecendo”, conta. 
     Para saber como cuidar da menina da melhor forma possível, a mãe de Joana conta com a ajuda de Terezinha, que desde que recebeu alta mora com a filha e a neta no apartamento que Patrícia dividia com João. A sogra, Sedi Treulieb, tem sido um “porto seguro” para a família. “Ela sempre esteve e está ao nosso lado, cuidando de mim e da Joana”, conta.
     Além do apoio da mãe e da sogra, Patrícia ainda conta com as dicas da avó materna de João, Irene Cantele, que se desloca de Cruz Alta, no Noroeste do estado, até Santa Maria para ver a bisneta. “Seguido ela vem nos auxiliar”, diz. Patrícia, Terezinha, Sedi e Irene representam quatro gerações, unidas por uma perda em comum e o nascimento de uma nova vida.
Fonte:G1.globo
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