Erika Sarturi Becker, nasceu em Santa Maria, onde era estudante de Agronomia na UFSM. Estava no 5º semestre. Apreciadora de literatura, gostava de Pablo Neruda e Tom Wolfe. O casal Leocarlos Oliveira Becker, de 51 anos, e Mauren Regina Sarturi, de 46, tinha muito orgulho de sua única filha. Aos 22 anos, a estudante de Agronomia Érika Sarturi Becker tinha tudo para ser a primeira da família a completar o Ensino Superior.Agora, com o sonho interrompido, aos pais veem as últimas semanas como premonitórias. Ao ouvir um pedido de sua mãe para que não saísse tanto à noite, a jovem rebateu:"Me deixa viver, porque eu não vou durar muito.Não me vejo depois dos 30." Com a filha crescida, os Becker já pensavam em adotar uma criança.Ideia que ganhou força agora. "Não tenho razão para prosseguir, não acredito que o tempo vai curar essa dor. Daqui para frente, não iremos mais viver, apenas sobreviver", diz mãe.
LeoCarlos Becker deu adeus, a Erika Sarturi Becker, sua única filha. Restam agora no apartamento da família, próximo à boate Kiss, apenas ele e a mulher.
"Eu estava viajando, em outra cidade. Minha mulher estava em casa. Ela ligou para a Erika, mas ninguém atendia. Depois de tanto tentar, uma pessoa atendeu e disse que havia encontrado a bolsa dela na rua", disse."Essa pessoa foi até a nossa casa e entregou a bolsinha dela com a identidade, a consumação e o dinheirinho", afirmou."Disseram que ela tinha sido resgatada. Procurando nos hospitais, mas não encontramos. Então fomos até o ginásio", disse, antes de uma pausa."E lá, a encontramos".
Foram sete horas de espera para reconhecer o corpo. "Mas o reconhecimento foi rápido. O número era o cinco", disse, como quem agradecia por não ter que perambular pelas mais de duas centenas de corpos.
Meus investimentos sempre foram pensando na Érika. Lá no mercado eu comprava primeiro as coisas dela. Contou Léo.
Sem a única filha, o casal pensa no sonho de poder preencher a casa novamente. O fato de ter apenas um filho foi escolha da própria Érika. " Deixamos para um segundo momento e quando perguntamos, ela não queria ter um irmão.Então nunca tivemos." comentou.
Desde a morte da jovem, Léo divide o dia entre o emprego em uma concessionária da cidade e o trabalho voluntário na Associação de Vítimas da Tragédia de Santa Maria(AVTSM). Enquanto isso, Mauren se dedica a visitar e dar carinho a crianças com câncer em um hospital do município.
Léo revela que ainda é difícil mexer nos pertences da filha. Como uma relíquia entre os objetos que Érika deixou como lembrança, os pais guardam a bolsa que ela utilizava na festa na casa noturna. "Alguém encontrou e nos entregou.As botas que ela usava no curso de Agronomia também são especiais. Um casaco demos para uma amiga que pediu." lembra Léo.
O quarto de Érika, ainda tem a roupa que a jovem usou no último dia em que permaneceu em casa antes de sair com os amigos para a festa na boate. Foi um pedido da mãe, que queria ficar com a memória da filha como ela estava naquele sábado, 27 de janeiro: alegre com a retomada das aulas do curso de Agronomia.
_Ela que arrumou o quarto, que desenhou sob medida para acomodar as coisas de que gostava, os bichinhos de pelúcia, os cremes, as fotos. Érika era muito alegre e faz uma falta enorme na casa. Era um diamante que vinhamos polindo e que de repente nos foi arrancado. - diz o pai.
Léo Becker estabeleceu uma rotina para tentar superar a dor da perda da filha. Todos os dias , pela manhã, abre o quarto de Érika e faz uma oração na escrivaninha onde ela costumava se comunicar com as amigas pelas redes sociais. À noite, repete a rotina de fé. Uma cunhada limpa o ambiente todos os dias, já que a mãe, Mauren, reluta em entrar no quarto da filha, e pretende mantê-lo intacto por pelo menos mais três meses, após sua morte.
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