Caroline Simões Côrte Real




     Caroline Simões Côrte Real,18 anos, morava em Santa Maria com a mãe e cursava o 2º semestre de Tecnologia de Alimentos na UFSM, onde era bolsista. Estava na boate com o namorado que também morreu. Era muito batalhadora, decidida e educada. Ela sabia o que queria e acabou entrando para a pesquisa mesmo tendo vários outros alunos mais adiantados no curso interessados. Ela conquistou os professores do curso com seu jeitinho e se dedicava ao máximo.

Carolina era uma garota iluminada, que já tinha planos de fazer mestrado e doutorado e virar pesquisadora. Era tradicionalista: gostava de música gaúcha e estava sempre muito alegre. Feliz por viver e fazer aquilo que gostava.


Foto: Daniel Favero / Terra
     
Acompanhando a nora, Maria Izolina Côrte Real, 70 anos, avó de Carolina, lembra que os meses de dezembro e janeiro são especialmente difíceis para a família. Antes de visitar o túmulo da neta, Maria Izolina já havia revivido o luto pelas mortes do marido e de seu filho. "Final de ano é sempre terrível, porque meu marido morreu em dezembro. Em janeiro, foi meu filho, e agora minha neta...", diz a idosa, fitando o vazio sob o sol escaldante de Santa Maria.
     "Não é fácil. Não tem um dia que passe sem que eu fique pensando na minha neta. Tem vezes que bate um desânimo, mas...", diz dona Maria, os olhos perdidos, sem que a frase fosse completa.
     "Minha filha morreu aos 18 anos, no terceiro semestre da faculdade... ela tinha a vida inteira pela frente", lamenta Clarice, amparada pela sogra e pela cunhada, Sandra Côrte Real, 38 anos. Vestindo uma camiseta com o rosto da sobrinha, Sandra externava uma revolta comum a quase todos que perderam seus entes queridos na tragédia.
As maquiagens ainda estão no banheiro. No quarto, os perfumes e cremes que ficaram nos frascos. A cama segue arrumada e, sobre ela, está um coração de pelúcia que Clarice Izabel Simões Côrte Real, 47 anos, deu à filha Carolina Simões Côrte Real.
Contrariando quem a aconselhou a se mudar da casa onde morava com a filha mais nova , Clarice tem um filho de 29 anos que não vive mais com ela , a cozinheira aposentada decidiu permanecer no lar onde Carol, como a jovem era conhecida, cresceu. As lembranças estão por toda parte, mas a mãe da vítima da tragédia ainda criou um cantinho no qual distribuiu fotografias e objetos pessoais de Carolina.


"Se eu saísse dessa casa, acho que o vazio seria ainda maior. Quando estou mal, entro no quarto dela, sinto o cheirinho que ficou nas roupas e me sinto melhor", comenta Clarice, que é viúva há 13 anos.
Ela conta que se permite sorrir, mas que ainda não conseguiu sentir nenhum momento de felicidade plena. "A cada dia que acordo, sinto a falta que ela me faz. Penso no sucesso que ela teria, porque era competitiva, determinada, ia se formar em Tecnologia dos Alimentos no ano que vem", diz.

A mãe de Carolina tentou participar de sessões em que outros pais de vítimas dividiam suas experiências. "Não consegui. O sofrimento dos outros pais mexia muito comigo, não me fazia bem", comenta.
Clarice lembra que, todos os anos, a família costuma se reunir para as festas de fim de ano. Em 2012, foi diferente, a jovem pediu que ela e a mãe ficassem em casa. As duas comemoraram sozinhas. "Foi uma espécie de despedida entre nós duas. Desde a tragédia, para mim, é como se fosse o primeiro dia. Mas estou fazendo o que posso para viver. Tenho outro filho, um neto, uma família que me ama e precisa de mim", diz.


Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/um-natal-vazio-11-meses-apos-a-tragedia-da-kiss-9gig0fz1seu68tzyenunqy1qm/ 
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